A Fortes Vilaça tem o prazer de apresentar Até o concreto, a segunda exposição de Rodrigo Cass a ocupar o espaço expositivo do Galpão Fortes Vilaça. O artista paulistano apresenta um novo conjunto de trabalhos compreendendo vídeos, esculturas e uma série de pinturas sobre linho, nas quais o uso da tinta é substituído pelo da terra e do concreto, branco e cinza.
O “concreto” – seja como conceito derivado do Neoconcretismo, seja como o material em si – é uma característica comum a todo este recente conjunto de trabalhos. Pelas paredes do Galpão o artista especializa, em Minimal surfaces, um grupo luminoso de 16 peças onde a base em linho colorido sofre interferências de terra e concreto, cuja materialidade busca aproximar o espectador da obra. Essas telas monocromáticas, dispostas como uma escala cores, trazem "molduras" pintadas por Rodrigo e ativadas pelas construções/destruições em concreto, que as invadem ou censuram, como em O branco da geometria, o maior trabalho desta série.
Esse movimento do desenho com concreto sobre os linhos é reflexo da ação de abstrahere, ou síntese, renúncia. Aplica-se aqui o conceito central dessa mostra, inspirado na definição latina do verbo abstrair, isto é, escolher, isolar ou separar uma parte de um todo. Para Rodrigo, abstrahere está em todas as ações da vida. Tudo é escolha ou renúncia, e as experiências são sempre incompletas mediante as inumeráveis possibilidades de decisão e liberdade que a ação contém. Em seus trabalhos cada parte remete a um todo, e tudo guarda a potência para o infinito que gera a transformação.
No vídeo que batiza a individual, Até o concreto, planos de cor que compõem molduras sutis ou margens de elementos – e aqui, mais uma vez, nos deparamos com essas molduras tênues e quebradas, inspiradas nos ícones bizantinos tão importantes para Rodrigo – são rompidos e devorados pela mão insistente do artista. Diferente do gesto do pintor, que deposita cor sobre os planos, neste vídeo ele retira a cor dos elementos até a sua mínima presença, fundindo-a com a cor do concreto – os trabalhos são projetados sobres bases de concreto.
Ativando objetos, no trabalho em vídeo O Social, garrafas de diversos conteúdos, de bebidas a produtos de limpeza, são posicionadas e retiradas do mesmo local no instante exato de um segundo. O curto tempo de reposicionar a mão e os objetos “abstratiza” as marcas de seus rótulos, transformando as ações independentes em um corpo inteiro e enganando o olhar de quem assiste. Em outro vídeo, Manual, o artista exerce e executa a transformação física de dois blocos de tijolo, friccionando-os uns contra os outros até os limites destes materiais, presenças do mundo e da arquitetura. E devolve aos objetos, assim, seu aspecto original: a aparência de terra.
Até o Concreto traz, ainda, três esculturas feitas em concreto. Em Torso, o cinto do artista foi preenchido com concreto e fundido a uma base do mesmo material, demarcando o espaço e a altura de sua cintura e, dessa maneira, fazendo uma analogia aos torsos que todo escultor clássico realizava. Já em America Preterita, um livro com gravuras de índios americanos atravessa e fica encrustado em um grande quadrado de concreto. Assim como nas gravuras que podem ser apreendidas das páginas abertas do livro, onde vê-se um ritual antropofágico indígena, o livro está sendo "devorado" e engolido pelo concreto, que, para Rodrigo, representa a história da cidade, a arquitetura, a pedra e seu próprio fóssil. Em Ascese, o par de sapatos do artista afunda em um outro volume de concreto, na tentativa e busca de escalá-lo e atingir o seu topo.
Em vídeos, pinturas e esculturas, o trabalho de Rodrigo Cass explora questões referentes a temas como contenção e ruptura, e costumeiramente faz referências à filosofia, à religião (o artista foi religioso Carmelita por nove anos), à história e à arte brasileira. Seus vídeos revelam um interesse por elementos da performance, em cenários econômicos onde a cor geralmente aparece como elemento construtor. Muitas vezes, estes trabalhos são projetados de forma a criar uma relação de continuidade ou de estranheza com a arquitetura. “O vídeo para mim é como uma escultura. Tudo é escultura”, costuma afirmar o artista.
Rodrigo Cass nasceu em São Paulo em 1983. Em 2010 foi selecionado para o programa Bolsa Pampulha e participou do Arte Pará no Museu Histórico do Estado do Pará. Participou do PIESP 2011-2012, Programa Independente da Escola São Paulo. Sua primeira exposição individual no Galpão Fortes Vilaça chamava-se Material Manifesto (2014).
Já participou das exposições coletivas Imagine Brazil, Foundation for Contemporary Art, Montreal, Canadá (2015); Espaço Liberto, MdM Gallery, Paris (2015); 5#5, Meyer Riegger, Karlsruhe, Alemanha (2015); 10ª Bienal do Mercosul, Mensagens de Uma Nova América, Porto Alegre, Brasil (2015); Here, There, QM Gallery ALRIWAQ, Doha, Qatar (2014); Imagine Brazil, Musée d’Art Contemporain de Lyon, França (2014) e Astrup Fearnley Museet, Oslo, Noruega (2013); Sight and Sounds: Global Film and Video, The Jewish Museum NYC, Nova York, EUA (2013); Planos de Expansão, Galeria Fortes Vilaça, São Paulo (2013); Programa Independente da Escola São Paulo, Instituto Cervantes, São Paulo (2012); Bolsa Pampulha 2010/2011, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte (2011); Paradas em Movimento: Wonderland - Ações e Paradoxos, Centro Cultural São Paulo, São Paulo (2010); Video Zone 4, Panorama do Vídeo Latino-Americano, Centro de Arte Contemporânea de Tel Aviv, Israel (2008); Medellín Artes Digitales, Medellín, Colômbia (2008); e In Vitro, Centro Cultural São Paulo, São Paulo (2006).